ESPELHO DE MIM

Não me diga que não fui nada

que os cordões que carrego

amarras, pulseiras do tempo

os minutos, horas, dias

passado que repasso, não desfaço

estórias de volúpia

Sim, volúpia pela vida

Tenho o riso maroto, tenho a velha gargalhada alterada

Corri chão na querência do saber

saber do mundo, vôos, trilhos e metrôs

a verdade das paisagens múltiplas

dispares, diferenças, melodias

o up e o down

filmes desde o começo

the ends, flores estourando

cadeiras do alpendre a tarde,

fruteiras, maçãs macias

meio fio, meio fio das noites. Ah! Calçada!

becos sem saída, avenidas liberadas

o ser que amo, aquele que anos fantasio

perdido nas multidões

entre guerras e mortos

por baixo de um fio elétrico

uma conexão cósmica

uma conexão de espíritos

lindamente te visto...

Rasgo-te como cartas velhas

apago-te como círios que rezo

Corto-te em postas

engulo e te esqueço

feneço, feneço, reconheço...

recrio, volto a buscar a face dentro das faces

buscar-te nas noites com a mão no ventre

no clitóris do coração

arfo, arfo, o lustre geme...

eu, camaleoa, você vagalume

mas adormeço, adormeço

Outro dia vazio... olhos de janela

acontecendo tudo, tudo

percorro o azul

vai chover, vai abrir o sol

quem sabe hoje, hoje? Hoje!

Preciso há séculos, milênios

do único espelho de mim, aquele que escondo

o mascarado, sim, aquele que eu conte

talvez o dia de ontem que passei

que foi tormento, tormento, um fim

os outros anos, muitos, muitos

digo que foram paciência

A procura da perfeição

Cíntia Thomé

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Cíntia Thomé
Enviado por Cíntia Thomé em 25/02/2011
Código do texto: T2814883
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