Carta Sem Destino
Quando distante procuro
Ver-te à luz do meu tormento,
Que é a sombra do desejo
Que em vão sussurra
Em minha mente sua sede;
E o tempo não passa...
Quando caminho
Pelos trilhos e vielas
De um destino
Que me abraça sem pudor,
Subjugando-me ao seu clamor,
É a tua imagem que vejo;
É o teu colo,
Que transforma em mel
Toda a minha ânsia...
Venha-me, venha-me teu caminhar
Com teu perfume que transcende
O universo do meu ser,
Desfigurado pela espera descontente;
Abra-me o véu,
Liberta-me o amor que ora sinto:
Diga-me:" Sou eu quem te chama;
Dá-me tua mão e vem! "
Não; seria um átimo de loucura
Querer a tua forma vislumbrar
Sob a luz do meu quarto escuro;
Seria, sim, pois que a distância
Não é apenas pelo gesto,
É também pelo pensar:
Não há rosas, nem flores silvestres;
Só a dor entre nós;
Mesmo assim, sou eu quem diz,
E redigo com a força desse amor incauto:
O tempo é perdido!
O espaço é confuso!
As sombras te tomam de mim
E só me resta esperar,
Mais uma vez,
Como foi ontem
E anteontem;
Como será amanhã,
Se a luz do sol permanecer...