Olhos de negar o dia.
E nossos olham teimavam em ficar abertos, olhando um para o outro. Pois se pesassem, tudo acabaria ali. Eles não queriam se fechar, assim como a noite não podia chamar o sol.
E em silêncio eles permaneceram sem que um suspiro de suas pálpebras fosse capaz de acordar o dia. Não, eles não podiam dormir agora, então se olhavam... E olhavam aquilo que nem mais os olhos podiam ver; aquilo que só a alma entenderia. Era uma conversa, talvez a mais profunda que já haviam tido. “E tudo era tão pouco” – Um coração dizia ao outro, e não completava a frase, porque não era necessário. Nada mais era necessário naquele momento, apenas seus olhos que precisavam manter-se abertos. Era uma briga na qual o sono era o personagem vilão, coitado das pálpebras que resistiam incessantemente.
Mas era a dor mais suportável para eles, pois queriam ficar acordados eternamente para que aquilo nunca acabasse. Fechar os olhos naquele momento era a perda total, era como o abandono. Nós não podíamos nos abandonar, pelo menos, não naquela hora. Seria jogar tudo fora. E como combater um processo natural? Uma hora precisaríamos dormir pela simples necessidade vital dos nossos corpos, o que queríamos seria negado por nós mesmos. Era impossível evitar. Só se tivéssemos o plano de nos transformarmos em peixes por ora, e então poderíamos ficar nos olhando atentamente, sem perder uma brechinha de respiração, uma piscada mais lenta, um movimento da pupila ou um sorriso distraído, o sorriso mais lindo... Até que mesmo os peixes, esquecendo-se de suas outras vitalidades, deixariam de comer e atrofiariam as suas cartilagens, enganariam suas brânquias até que morreriam docilmente, sem perderem um momento se quer das suas conversas. E nada seria dito, porque não era necessário.