ENTREGA
Não sou nada além de uma metade,
a mais pobre metade de quem sonhei ser.
Minhas escolhas me deixaram vazio
e, oco, caminho pelas ruas
a me procurar.
Meus versos - o que são?
Espasmos de ideias requentadas.
Repito-me como a me refutar.
Reitero o que ninguém ousa entender.
Sou só isso.
Mas o sou absolutamente.
Metade impura, mas em busca
de uma possível santidade.
Pisando em falso, vacilante,
sou isso.
E se tenho amor por ti,
mesmo lavado em tão visceral fracasso,
entendo ser alguém com capacidade
de escrever um verso perfeito,
mesmo que invisível.
E amo com todas as minhas fúrias
a doçura de tua entrega.
E é isso.