O LADO AMOROSO DE MIM
Nada fora dele
me negue
me atinja
me finja
Nem eu próprio sem amor me conceba...
Nele me saberei e me criarei
Por trás dos olhos dele me escondo e exponho
O estrondo que gritou neste sonho imenso
De derramá-lo fervente em meus braços
Queima-me com prazer
Dentre os vãos dos dedos
Faço a dor, faço o espaço
Esfumaço-me... Tal um cigarro
Esquecido da boca o prazer viciado
Meu querer se perde na solidez solta e só
D’uma orquídea erradia em seu tronco
Na sua forma mais arredia
Na sua beleza mais baldia...
A suavidade entinta as cores da flor às sombras
Salvam-se pétalas do cego furor destrutivo das ervas
E os meus tremores coabitam com a minha sensatez...
Escura e dura essa difícil escalada
Pelo negrume do meu muro
Onde o amor se disfarça
Em meus lábios contentes
As fragilidades racham mais as antigas fadigas
Na coerência desafiadora dos meus regaços
Nessa viagem indômita torno-me um gigante.
Léguas e léguas de ternuras e um simples passo...
Meu amor agora é sentimento cansado, mas contente...
Deito-me com os titãs, com os vermelhos dragões
Que me lambem os pés como cães bem-comportados
O amor vê-me a face a dormir e se enamora
Estou chafurdado de vida pelo avesso do sono...
E assumo o lado amoroso de mim
O lado que, de mim mesmo,
Olhando, o outro lado gosta...
E, gostando, numa franca aposta
Entrega sem receio tudo
Lado e lado
De si para si...