A História

Triste lição de experiência deixam

Os evos no passar, e os mesmos atos

Renovados sem fim por muitos povos,

Sob nomes diversos se encadeiam:

Aqui, além, agora ou no passado,

Amor, dedicação, virtude e glória,

Baixeza, crime, infâmia se repetem,

Quer gravados no soco de uma estátua,

Quer em vil pelourinho memorados.

Eis a história! — rainha veneranda,

Trajando agora sedas e veludos,

Depois vestindo um saco desprezível,

D'imunda cinza apolvilhada a fronte.

Se as virtudes do pobre não têm preço,

Também dos vícios seus a nódoa exígua

Não conspurca as nações; mas ai dos grandes,

Que trilham senda errada, a cujo termo

Se levanta a barreira do sepulcro,

Onde se quebra a adulação sem força.

Se virtuoso, as gerações passando

As cinzas lhe beijaram; se malvado,

Cospem-lhe afrontas na vaidosa campa,

Jamais de amigas lágrimas molhada.

E qual do Egito nos festins funéreos,

Maldizem bons e maus sua memória,

Lançando à face da real mumia

Dos crimes seus a lacrimosa história.

Talvez, porém, um infortúnio grande,

Um exemplo sublime de virtude,

Cobre dourada página, que aos olhos

Pranto consolador sem custo arranca.

Eis a história! um espelho do passado,

Folhas do livro eterno desdobradas

Aos olhos dos mortais; — aqui sem mancha,

Além golfeja sangue e sua crimes.

Tal foi, tal é: retrato desbotado,

Onde se mira a geração que passa,

Sem cor, sem vida, — e ao mesmo tempo espelho,

Que há de ser nova cópia à gente nova,

Como os anos aos anos se sucedam.

Ondas de mar sereno ou tormentoso,

As mesmas na aparência, que se quebram

Sobre as d'areia flutuantes praias.

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 20/02/2011
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