ENQUANTO DORMES

Para Míriam

Fitava-te.

A névoa negra da noite, lá por fora.

A janela aberta. A brisa bafejando nossos corpos:

Cálida brisa a perpassar nos teus cabelos.

Um hálito de verão, vindo da noite,

A noite calma, eu, calmo, a fronte silente.

Volvida a cabeça, eu te fitava.

Dormias, com a fronte solta ao travesseiro,

A tez, negra, os lábios voluptuosos,

O olhar sereno, os cílios cerrados.

Eu, num desejo incansável de fitar-te,

Sentado em ali na cama, eu te fitava.

Davas-me a estesia esmerada.

No alvo cetim, a negra tulipa.

E o admirar deslumbrante de um poeta.

Fitava-te.

Como o contemplar de uma Iguaçu.

Sentindo-te, como um arrebol, visto ao silêncio.

Como o ouvir da sinfonia,

Arrepiavam-me os teus encantos.

E um amor ruminando no meu peito.

E o olhar em prantos.

Geraldo Altoé

Geraldo Altoé
Enviado por Geraldo Altoé em 02/11/2006
Reeditado em 30/08/2007
Código do texto: T280055