ENQUANTO DORMES
Para Míriam
Fitava-te.
A névoa negra da noite, lá por fora.
A janela aberta. A brisa bafejando nossos corpos:
Cálida brisa a perpassar nos teus cabelos.
Um hálito de verão, vindo da noite,
A noite calma, eu, calmo, a fronte silente.
Volvida a cabeça, eu te fitava.
Dormias, com a fronte solta ao travesseiro,
A tez, negra, os lábios voluptuosos,
O olhar sereno, os cílios cerrados.
Eu, num desejo incansável de fitar-te,
Sentado em ali na cama, eu te fitava.
Davas-me a estesia esmerada.
No alvo cetim, a negra tulipa.
E o admirar deslumbrante de um poeta.
Fitava-te.
Como o contemplar de uma Iguaçu.
Sentindo-te, como um arrebol, visto ao silêncio.
Como o ouvir da sinfonia,
Arrepiavam-me os teus encantos.
E um amor ruminando no meu peito.
E o olhar em prantos.
Geraldo Altoé