A inútil tragédia da vida
Não chega a merecer um poema.
Só o poema merece, por vezes
A inútil tragédia da vida.
Trecho de “Do dever de deslumbrar”
De Natália Correia (1923-1993)
Talvez não valha
O silêncio quebrado
E seus cacos espalhados
Pelos cantos do momento
Coisa que valha
Não calha dizer
Deixa de ser
Se não tem de ser
Esvazia os olhos
Dessas paisagens
Regurgita
O que não te deram
Para comer
O que presta
É ir dormir
Sem sonhar
Sem imaginar
Sem querer
Sem sentir
Sem viver
Esquecer
O que resta
Os cacos do silêncio
São para comer
Coisa que valha
Atrapalha
Na hora de correr
E talvez não valha
Esse desalento
Lágrima desperdiçada
A dor mais oportuna
Na hora tão inoportuna
O que não presta
Essa desatenção
A agonia profunda
Essa pretensão
De o poeta ser
Mais que o poema
E ter mais o que dizer
E não diz, nem se quiser
Nunca o contrário
É sempre o poema
Que nos faz viver
Coisa que valha
A poesia, a vida
A palavra e seu silêncio
Que sempre estraçalha
O que se ia dizer...
Não chega a merecer um poema.
Só o poema merece, por vezes
A inútil tragédia da vida.
Trecho de “Do dever de deslumbrar”
De Natália Correia (1923-1993)
Talvez não valha
O silêncio quebrado
E seus cacos espalhados
Pelos cantos do momento
Coisa que valha
Não calha dizer
Deixa de ser
Se não tem de ser
Esvazia os olhos
Dessas paisagens
Regurgita
O que não te deram
Para comer
O que presta
É ir dormir
Sem sonhar
Sem imaginar
Sem querer
Sem sentir
Sem viver
Esquecer
O que resta
Os cacos do silêncio
São para comer
Coisa que valha
Atrapalha
Na hora de correr
E talvez não valha
Esse desalento
Lágrima desperdiçada
A dor mais oportuna
Na hora tão inoportuna
O que não presta
Essa desatenção
A agonia profunda
Essa pretensão
De o poeta ser
Mais que o poema
E ter mais o que dizer
E não diz, nem se quiser
Nunca o contrário
É sempre o poema
Que nos faz viver
Coisa que valha
A poesia, a vida
A palavra e seu silêncio
Que sempre estraçalha
O que se ia dizer...