Teus olhos...

Ando eu deslumbrando-me,

Ora demais,

Com o céu negro que há nos olhos teus...

Já não há claridade que estenda-me,

Somente, meu amor, a escuridão

E, entre nós, ou em mim, senão, a paixão da insanidade.

Do ósculo, carícia doce escarlate

Minuciosa, delineada

A saliva velando alva flor

Escorrendo entre as pernas, ao som d’arpas...

As cifras de todas elas, soluçantes em treva densa

Louvando nossos negros corações,

Excedidos às chamas...

Queimam, deliciosamente fartas

A pele e as horas, ocultando desejos

Quase ausentes, desesperados

Numa escuridão pouco finda.

Oh, olhos de um deus!

Esculpidos à ônix sagrada

D’um olhar triste, a noite traga

a conta mortal do meu segredo...

Profano,

Devora-me fôlego e fé, madrugadas afora

Sangrando enquando encerrado na afiada lâmina

Do teu desamor afetuoso...

A paz perdida nos acinzentados pesadelos

E o tempo medido à nada

As lágrimas, chovendo crueis pecados

E minha morte...

à espera de tuas fúnebres rosas.

Em segundos d’onde minh’alma, vertendo sob teus olhos negros,

desce, por Caronte, inebriada aos infernos ...

Vaga, vaga... Horas, quando à estrada, sinuosa, silenciosa, vaga desgraçada...

alma sem começo nem fim!

Anna Beatriz Figueiredo
Enviado por Anna Beatriz Figueiredo em 18/02/2011
Código do texto: T2798905
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