Não preciso mais de sonhos

Temos nossa própria vida

E por quê não todas as vidas virão próprias?

Por que as coisas inexplicáveis

Estão tão óbvias!

O que me foi prometido por alguém

Você já cumpriu de um modo maravilhoso

Tal, que não preciso mais de sonhos:

Você disse que me ama;

Nunca mais quero acordar.

Temos nossas próprias mortes

Pena eu não poder morrer duas vezes

Pra evitar que o que há de ruim

Se ponha após você nesta terra

Dôo a vida minha que nada vale

Em nome da Paz que com você carrega

Quando e se você dormir

Nós é que vamos acordar

Ver que o sonho se foi, a que mais se viverá?

Tão horríveis são os inimigos

Que, amor, ás vezes são menos malvados

Que seus próprios irmãos

Pois o que tenta-nos a afogar-nos

É a leveza que nos inclina ao vício

Pois o que agora nos trouxera paraíso

Bem em próximo futuro nos será malefício

Precisamos, porém, de por vezes nos afogar.

Quando se afaga se afoga se vicia se namora

Vê-se que o tom do céu faz-se mais aquarela

E perdemo-nos no movimento rápido das horas

E lá se foi quem tanto amávamos

Sacada de jogada na janela

Agora teu cabelo que a cascateava

Se perde pela poeira dos séculos

Por quê até as deusas se vão?

Como é desordenada ordem natural das coisas

As coisas são naturalmente ordenadas

Sob o ponto de vista de quem?

Que se acha certo e se tem como normal?

Normal não é o amor

Pois, se verdadeiro, é estágio superior

E você já me fez feliz de modo maravilhoso

Tal, que não preciso mais de sonhos

Você disse que me ama

Não quero nunca mais acordar.