Pois não é?!

Ver cair o cedro anoso

Que campeava na serra,

Ver frio baixar à terra

O pobre velho bondoso

Que procurando repouso

Tropeçou na sepultura;

É triste, sim, é verdade,

Mas não tão grande a saudade

Nem a dor tão funda e dura,

Pois que ao velho e ao cedro altivo

Partido à voz da procela,

No mundo - jardim lascivo -

A vida foi longa e bela.

Mas ver a rosa do prado

Que a aurora deu cor e vida,

De manhã - flor do valado,

De tarde - rosa pendida!...

Mas ver a pobre mangueira

Na primavera primeira

Crescendo toda enfeitada

De folhas, perfume e flor,

Ouvindo o canto de amor

No sopro da viração;

Mas vê-la depois lascada

Em duas cair no chão!...

Mas ver o pobre mancebo

Em quem a seiva reluz,

No sonho cândido e puro

Nas glórias do seu futuro

Dourando a vida de luz

Mas vê-lo quando a sua alma

Ao som d'ignota harmonia

Se derramava em poesia;

Quando junto da donzela

- Cativo dos olhos dela -

Na voz que balbuciava

De amores falava a medo;

Quando o peito trasbordava

De crenças, de amor, de fé,

Vê-lo finar-se tão cedo,

Como as vozes dum segredo...

É dor demais - pois não é?!...

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 16/02/2011
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