Moreninha

Moreninha, Moreninha,

Tu és do campo a rainha,

Tu és senhora de mim;

Tu matas todos d'amores,

Faceira, vendendo as flores

Que colhes no teu jardim.

Quando tu passas n'aldeia

Diz o povo à boca cheia:

- "Mulher mais linda não há

"Ai! vejam como é bonita

"Co'as tranças presas na fita,

"Co'as flores no samburá! -

Tu és meiga, és inocente

Como a rola que contente

Voa e folga no rosal;

Envolta nas simples galas,

Na voz, no riso, nas falas,

Morena - não tens rival!

Tu, ontem, vinhas do monte

E paraste ao pé da fonte

À fresca sombra do til;

Regando as flores, sozinha,

Nem tu sabes, Moreninha,

O quanto achei-te gentil!

Depois segui-te calado

Como o pássaro esfaimado

Vai seguindo a juriti;

Mas tão pura ias brincando,

Pelas pedrinhas saltando,

Que eu tive pena de ti!

E disse então: - Moreninha,

Se um dia tu fores minha,

Que amor, que amor não terás!

Eu dou-te noites de rosas

Cantando canções formosas

Ao som dos meus ternos ais.

Morena, minha sereia,

Tu és a rosa da aldeia,

Mulher mais linda não há;

Ninguém t'iguala ou t'imita

Co'as tranças presas na fita,

Co'as flores no samburá!

Tu és a deusa da praça,

E todo o homem que passa

Apenas viu-te... parou!

Segue depois seu caminho

Mas vai calado e sozinho

Porque sua alma ficou!

Tu és bela, Moreninha,

Sentada em tua banquinha

Cercada de todos nós;

Rufando alegre o pandeiro,

Como a ave no espinheiro

Tu soltas também a voz:

- "Oh quem me compra estas flores?

"São lindas como os amores,

"Tão belas não há assim;

"Foram banhadas de orvalho,

"São flores do meu serralho,

"Colhi-as no meu jardim." -

Morena, minha Morena,

És bela, mas não tens pena

De quem morre de paixão!

- Tu vendes flores singelas

E guardas as flores belas,

As rosas do coração?!...

Moreninha, Moreninha,

Tu és das belas rainha,

Mas nos amores és má

- Como tu ficas bonita

Co'as tranças presas na fita,

Co'as flores no samburá!

Eu disse então: - "Meus amores,

"Deixa mirar tuas flores,

"Deixa perfumes sentir!"

Mas naquele doce enleio,

Em vez das flores, no seio,

No seio te fui bulir!

Como nuvem desmaiada

Se tinge de madrugada

Ao doce albor da manhã

Assim ficaste, querida,

A face em pejo acendida,

Vermelha como a romã!

Tu fugiste, feiticeira,

E decerto mais ligeira

Qualquer gazela não é;

Tu ias de saia curta...

Saltando a moita de murta

Mostraste, mostraste o pé!

Ai! Morena, ai! meus amores,

Eu quero comprar-te as flores,

Mas dá-me um beijo também;

Que importam rosas do prado

Sem o sorriso engraçado

Que a tua boquinha tem?...

Apenas vi-te, sereia,

Chamei-te - rosa da aldeia -

Como mais linda não há.

- Jesus! Como eras bonita

Co'as tranças presas na fita,

Co'as flores no samburá!

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 16/02/2011
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