Sem mais visitas
Minhas às lembranças
E das lembranças a mim
Indescritível silêncio
Insuportável solidão
Os amanhãs desfeitos
Na manhã perfeita
Em que estarei vivo

Mas como?

Recolhendo fúrias alheias
Acalentando desesperos
Negligenciado temores
Devorando todas as cores
Das horas piores
Dos melhores dias
Do pior da vida
Afugentando olhares
Engolindo sorrisos
Tragando os sons
Com que saudar o infinito
De um mundo de sonhos
Muito além dos mares
E tão aquém dos amores

E assim:

Esse amor me consome
A carne, o espírito, a poesia
A vontade, o sonho, a verdade
Todas as horas de todos os dias
As manhãs, as noites, as tardes
Os sábados e depois os domingos
Quando dele não me distraio
E traio as palavras todas
Que não ousei ainda proferir

E eu me canso
Dessa falta de descanso
De não ter mais o que fazer
A não ser deixar doer
Tudo isso dentro de tudo
Tão difícil de esquecer

Cansa...

Eu me aquieto num canto
O vendaval vai passar
Um dia vai passar
E me inquieto, entretanto
Isso ainda pode me matar
Morrer? Não. Deixar de ser
Esquecer? Não. Deixar de pensar
Desistir? Não. Deixar de pedir
E então eu peço
Não me dê o que mais quero
E me disperso
Carrega tudo o que espero
Eu quero não querer
Aquilo que não peço

Desgasta...

Basta dessa poesia
Que suplica
Basta desse grito
Inútil
Porque muito distante
As palavras hão de morrer
Sempre a meio caminho
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 16/02/2011
Reeditado em 29/07/2021
Código do texto: T2794997
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