JANELAS

Quando estamos sós as horas se desmancham vagarosamente,

tempestade anunciada de um desespero diluído, frio,

embaçado com a névoa que se acende no olhar vazio.

Do que falar quando não estamos sós.

A alma se perturba em melindres,

escorrega no abismo metafísico das palavras,

se recolhe muda, pronta para outro dia.

E cada vez, ansioso, não programo nada

sem a conivência do imprevisível.

A noite decide chegar com sua roupagem misteriosa

entoando canções apaixonadas, com cheiro de bebida forte.

Fujo dos questionamentos e dos pensamentos ricos,

mais complicados e mais profundos prá mim

não sinto vontade de espremê-los

nem buscar o sumo de cada solução.

Desço pelas ruas, perco-me entre as pessoas, de propósito.

A inocência que briha nos olhos não é verdadeira,

Meu corpo contempla as janelas,

O sono alimenta o meu cansaço por coisas novas.