Sincretismo da minha loucura
O mundo despertava em sóbrios tons desejando amanhecer,
da janela um raio de sol anunciava o milagre que meus olhos puderam ver,
nas ruas silenciosas, dormiam os sonhos sobrados no chão;
onde descalços caminhavam sem destino no contexto de pura contemplação.
O pão parido da terra mostrava sua forma estéril na inexistente partilha da vida,
nas sarjetas escondidas, um rio formado por lágrimas lavava a face desvalida,
o céu perdido em suas cores mortas, mostrava no cinza a ausência do amor,
que tombado mesclava-se aos algozes dessa suja e total condenação.
Chagas vivas no corpo do herói que até então nutria em si o saber,
velhos desolados guardavam as soleiras onde a vida haveria de passar,
em pé, fora do mundo, o caminheiro aguardava o sim que as bocas calavam,
um tempo pedia a lua nas diversas faces que nas madrugadas buscava por paz.
Salvei a alma que caminhava comigo na esperança de amanhecer amor,
acordei vestindo paixão nos solos estrangeiros onde o sóbrio é pura ilusão,
renascendo a vida na revelação do milagre anunciado por um raio de sol,
naveguei pelos mares na certeza de que o horizonte não negaria o perdão.
28/08/2006