Poema 0867 - Vício
O metal entra a pele rija,
sem sentido,
o grito é desequilibrado,
ansioso aspiro,
respiro profundo o alivio.
Dilatam-se as pupilas,
o mundo se arredonda,
o céu abre-se em buracos
mostrando meus ontens,
outros dias virão.
Mal noto que estou vivo,
estranhamente vivo,
a sensação é de voar
em uma leveza química,
impura aos dedos trêmulos.
Dobro velhas esquinas,
os pés não reconhecem o chão,
sou pedaço de terra que volta,
caminho lento, um dia de cada vez,
em cada dose simples sem gozo.
Meu futuro está embrulhado
em um pedaço de papel comum,
atravesso as estradas,
corto com faca a pele suja,
jorram pedaços de sonhos e o destino.
Retiro o metal da carne,
o sonho recomeça,
a viagem, o céu,
apenas ilusões de minutos,
e volto a morrer, até outra dose...
31/10/2006