As duas amigas

Já vistes sobre a flor de manso lago

Duas aves brincando solitárias,

Já pousadas na lisa superfície,

Já levantando vôo?

Já vistes duas nuvens no horizonte,

Brancas, orladas com listões de fogo,

A deslumbrante alvura cambiando

Ao pôr de sol estivo?

Já vistes duas lindas mariposas,

Abrindo ao romper d’alva as longas asas,

Onde reflete o sol, como em um prisma,

Belas, garridas cores?

Nem as pombas que vagam solitárias,

Nem as nuvens do ocaso, nem as vagas

Borboletas gentis que adejam livres

Em vale ajardinado:

Tanto não prazem, como doces virgens,

Airosas, belas, com sorrir singelo,

Da vida negra e má duros abrolhos

Impróvidas calcando.

Quanto há no mundo d’ilusões fagueiras,

De perfume e de amor, guardam no peito,

Quanto há de luz no céu mostram nos olhos,

Quanto há de belo – n’alma.

Como um jardim seu coração se mostra,

Seus olhos como um lago transparente,

Sua alma como uma harpa harmoniosa,

Seu peito como um templo!

Mas um fraco arruído espanta as aves,

Uma brisa ligeira as nuvens rasga,

E uma gota de orvalho ensopa as asas

Das leves mariposas.

Desgarrdas voando as aves fogem,

Dos castelos dos céus perdem-se as nuvens,

Nem mais adejam borboletas vagas

Sobre o esmalte das flores.

Pois quem resiste ao perpassar do tempo?

Depois que derramou grato perfume

Sobre as asas dos ventos que a bafejam,

A flor também definha.

Mas um nobre sentir que se enraíza

No peito da mulher, que menos ame,

É como essência preciosa e grata,

Que se lacrou num vaso.

Repassa-o: depois embora o esgotem,

Leves emanações, gratos eflúvios

Há de eterno verter da mesma essência,

Talvez porém mais doces.

Zorro Poeta
Enviado por Zorro Poeta em 11/02/2011
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