O BOTÃO E A PRIMAVERA
E de repente o viço debutante visitou aquela face de donzela
Tornando a semente que era ela no mais ardente dos botões
Sob os espreitos de inauditas emoções, foi debruçar-se à janela
Viu a chegada da primavera e no seu peito impetuosas inundações!
Ela encontrou nos versos do poeta o côncavo de seu convexo desejo
Logo o sabor do primeiro beijo sedimentou a mais gritante das paixões
Doou a pureza das sensações às arapucas de um ardiloso gracejo
E se deu ao primeiro cortejo rumo ao prazer de suas imaginações!
Conheceu o seu hábil amante sob o poder de seu corpo em nudez
Ao som das estrofes que lhe fez, viu-se qual diva imorredoura
Foi musa inspiradora e em seus lábios verteu deliciosa embriaguês
Em nome do amor que fez - eis prisioneira como nunca antes fora!
E mesmo agora, contemplando a jovem flor, o horizonte da ilusão
Jamais esquecerá que foi botão desabrochado pelos braços de uma fera
À janela ainda espera pelo regresso do poeta que roubou-lhe o coração
Para findar sua chuvosa estação e experimentar mais uma vez a primavera!
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Reinaldo Ribeiro - O Poeta do Amor
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