A APOTEOSE DO AMOR

A A P O T E O S E D O A M O R

Está-se distante é querer voltar

Se há lágrimas é enxugar

Se receber, também dar carinho

Se longe por pouco tempo sentir saudade

Sempre querer estar juntos a todo o momento

Colados no aconchego cochilar

Mesmo acordado fantasiar sonhos

E recordar das coisas simples

Não deixar lugar para carências

Refletir sinceras ternuras

Murmurar doces promessas

No embaraço fazer silêncio

Na tristeza confortar

Não guardar segredos

Ser grato dos favores

Se resguardar nos bons princípios

Recompensar as juras esquecidas

Construir conforme as críticas

Aceitar lógica onde só cabe a razão

Aceitar flores ainda que murchas

Prostrar e adorar o ser amado

Amar é coisa de abraços

É a apoteose dos beijos na boca

É viver loucuras gostosas

É estar cego para tudo mais

E identificação de cheiros

É dizer da beleza no outro

É fazer chover no molhado

É acontecer festa a dois

É expressar emoções delicadas

É ter sensibilidade em ouvir

É alegria no peito

É trocar sorrisos

É jamais verter lágrimas por amar

É compreender só com o olhar

É deliciar como mel o amor

Amar não envolve dinheiro

Não se faz negociata

Tão pouco deve ser uma mania

Muito menos um solilóquio

Ama-se só com os olhos

Num movimentar de cílios

Num contato de pele

Num assobio de lábios unidos

Por obrigação deve ser terno e delicado

No lugar e momento exatos

Nunca muito cedo

Jamais muito tarde

Não pode oprimir

Sempre dispensar a hipocrisia

Aspirar à sábia paciência

Entender tudo que se sente

Sentir os glóbulos passear

Bafejar o hálito de cio

Contrair os músculos da face

Morder sem fazer marca de dentes

O amar é chama a crescer

Amando ouve-se filarmônica

Sobe-se aos píncaros, até nas nuvens

Voa-se alto e eternamente

É ter febre só na língua

É se rebelar contra a raça

É verter sangue pelos poros

É cuspir no prato que comeu

Não guardar o amor na prateleira

Não menosprezar a pessoa amada

Cautelar-se e temer o zunzum de fuxico

Em tempo algum se deve fingir amar

(junho/1995)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 09/02/2011
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