Do teu amor, chama-lhe AMOR!
Que venham das profundezas monstros marinhos e baleias
Que sereias me cantem
Cantigas de embalar
Que a minha ausência se torne uma epifania
Que os gentios te anunciem
Na minha aparição
Que dolosas são minhas caminhadas
Meus hirtos e sangrentos pés
Minhas agruras
E desfelicidades
Minhas amarguras
E desfalecencias
Meus chorosos
Olhos torturados
Meus desamores
Desencontrados
Minha paralisia silenciosa
Que te procuro amiúde
Entre os taludes
Das serranias
Das alturas
Que se me avistam monstruosas
Na embalagem do mar
No pélago do ar
Entre o profundo e o insano
Entre o te possuir e o descrer
Entre o almejado
Entre o alcançado
Entre o tido
.... O abraçado...
Oh esqueci-me do pressuposto
Na espuma arenosa da Lua
Entre os rabiscos do te amar
Marejado
Que limpa na onda marinha
O meu amor...
Entre as conchas de som
Soadas canção
Para te ouvir nalguma distância
Bem longe ou perto
E só te tenho nas mãos
As palmas molhadas
Deste mar que me banha
E me salpica
E me rouba o teu odor...
É raro não acordar
Na madrugada
Entre os suores da alvorada
É tão raro não acordar
No refulgir brilhante
Atormentado
Pelos raios cadentes da noite
Copiados no e pelo luar
Onde se esbatem na minha alma
Como sombras
Para descobrir
Que:
te tenho perdido nos inventos
Onde lampejam mosquitos
Sedentos da minha saúde
Como quem bebe do meu sangue a vida
E te tenho presa nas vidas
Que te alcanço por entre os sonhos
Do teu silencio.....
Chama-lhe AMOR!
Paulo Martins