A vida é molhada...

A chuva não cai.

O cheiro de mato seco, não sai.

Respiração dolorida. Louca falta de vida. Ambiente deserto.

Não gosto de secura. Não gosto de nada seco.

Não gosto de ver rachadura e não gosto de pó.

Prefiro gente. Prefiro verde. Prefiro a roupa molhada, sem nó.

Pois é, prefiro molhada. Poça d’água brilhante, enlameada.

Desejo assim, amor e chão, potencialmente viril,

numa trilha encharcada.

Mesmo comida...

Mesmo bebida...

Tudo tem que escorrer e

tudo tem que escorregar.

Molho, gole e saliva.

Tudo molhado, enlaçando o sabor.

Abraçando o calor e o meu jeito molhado, de amar.

O corpo sabe...

E a alma, entende.

Todas as nossas manifestações de emoção são

acompanhadas de líquido.

Todas, sem exceção... De dor ou prazer.

Do beijo gostoso, ao choro sentido.

O leite...

Do ato de amor feliz, à dor intensa e sangrenta,

do corpo parado, atingido.

Não acredito que nada vivo e seco, possa estar feliz.

Terra, ar, água e madeira. Qualquer elemento vivo.

Comida sem molho, beijo sem saliva.

Amor sem vontade e um olhar seco e sem vida.

Para mim, vivo e seco, só vinho tinto...

Um beijo grande,

Maü Cardoso
Enviado por Maü Cardoso em 08/02/2011
Código do texto: T2778807
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