A vida é molhada...
A chuva não cai.
O cheiro de mato seco, não sai.
Respiração dolorida. Louca falta de vida. Ambiente deserto.
Não gosto de secura. Não gosto de nada seco.
Não gosto de ver rachadura e não gosto de pó.
Prefiro gente. Prefiro verde. Prefiro a roupa molhada, sem nó.
Pois é, prefiro molhada. Poça d’água brilhante, enlameada.
Desejo assim, amor e chão, potencialmente viril,
numa trilha encharcada.
Mesmo comida...
Mesmo bebida...
Tudo tem que escorrer e
tudo tem que escorregar.
Molho, gole e saliva.
Tudo molhado, enlaçando o sabor.
Abraçando o calor e o meu jeito molhado, de amar.
O corpo sabe...
E a alma, entende.
Todas as nossas manifestações de emoção são
acompanhadas de líquido.
Todas, sem exceção... De dor ou prazer.
Do beijo gostoso, ao choro sentido.
O leite...
Do ato de amor feliz, à dor intensa e sangrenta,
do corpo parado, atingido.
Não acredito que nada vivo e seco, possa estar feliz.
Terra, ar, água e madeira. Qualquer elemento vivo.
Comida sem molho, beijo sem saliva.
Amor sem vontade e um olhar seco e sem vida.
Para mim, vivo e seco, só vinho tinto...
Um beijo grande,