Beijo
Assisti ao surgimento dos céus, dos continentes
E vi a beleza que nascia incandescente da terra
Colhi flores e frutos dos jardins ternamente,
Bebi a água cristalina nascente das serras...
Voei alto com a luz do sol poente
E pousei nas cantigas das crianças abençoadas
Chorei junto às estrelas tristes e cadentes,
Adormeci no embalo da lua prateada...
Mergulhei nos mares profundos
E acompanhei o nascimento de novas existências
Emergi em busca de novos sonhos, novos mundos,
Aprendi com a natureza, a ter paciência...
Senti o gosto do vento soprando em minha face
E do orvalho umedecendo meus lábios inocentes
Testemunhei o amor entre lua e sol num enlace,
Lastimei por sua fatalidade plangente...
Provei o néctar das abelhas e das flores
De todos os jardins secretos
Degustei o melhor de todos os sabores,
me opus à regras e à fúteis decretos...
Quando imaginei já ter visto tudo de belo
Deparei-me admirada com a imagem resplandecente...
Eras tu, sereno e com o coração mais sincero,
Que te fez evidenciar com tua alma inebriante...
Havia uma luz, um mistério naquela noite
E por mais que tentasse, não conseguia me afastar
Foi o brilho de teu olhar o luzir da minha fronte,
e teu beijo... o mais doce e terno que já pude provar...
Teu beijo... tem gosto do orvalho das manhãs
e delicado como as pétalas das rosas perfumadas
Úmido como frutas frescas entre as romãs,
e quente... como o calor das noites enluaradas...
Quero ser náufraga em teu mar tempestuoso
Numa dança vertiginosa, de entrega súbita e total
Me acolher em teus abraços fortes e afetuosos
E me sentir mais viva que qualquer imortal...
Renunciaria aos vôos junto às estrelas brilhantes
em troca de teus olhares envolventes a me provocar
Renunciaria à visão maravilhosa do enlaço dos amantes
somente para em teu corpo me encontrar...
Trocaria o sabor dos ventos e a minha eternidade
pelo teu carinho... a me embriagar e a me transformar
pelo teu beijo... pela absoluta indisciplinabilidade,
Que me faz feliz, e inevitavelmente... me faz te amar...