O VENTO ROUBOU MEU AMOR

Ventos desventurados sopraram do norte,
Escrevendo sobre minha página já rasurada,
Com os rascunhos da minha vida em febre,
Mas um arranhão nas minhas entranhas,
Escrita com os lenços de despedida e dor.

Passou o vento do norte por mim,
Trazendo ameaças e fazendo temporal,
Arrancou dos meus braços o meu amor,
Que levou consigo, rumando para o sul,
Deixando só um lastro de pranto e solidão.

Hoje venta do sul, trazendo esperança,
E fico aqui na janela, olhando o tempo,
Vendo-o passar com o vento, que só traz frio,
Esfriando meu peito já sofrido, tão triste,
Mas esperando sempre pela próxima rajada.

Ontem também ventou, mas era do leste,
Trazia do mar uma chuva fina e melancólica,
Vazia de esperança, mas ainda contendo sonhos,
De que o vento mudasse e soprasse para o norte,
E eu já aquecia meu colo para acolher o meu amor.

Falaram-me que os ventos do sul só trazem frio,
Mas frio e ingrato é o vento vindo do norte,
Que levou o meu amor e arranhou meu coração,
Que sangra todo dia, sem se importar com o vento.

Triste são as noites límpidas, clareadas pelas estrelas,
Que não deixam nenhum vento soprar meu coração,
E então saio a caminhar pelas ruas nuas e desertas,
E a simples brisa que me lambe a cara já envelhecida,
Já alimenta minha esperança de que amanha ventará,
Lá do sul - e que em sua garupa traga de volta o meu amor.
Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 02/02/2011
Código do texto: T2767530
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