Noite de amor
É tarde, ela disse em sussurros,
Tens de ir agora....
Juro, amigos, não a quis ouvir...
Pareceu-me estar surdo ao mundo,
Logo eu, tão sensato... não a ouvi.
Enrolado nos lençóis, o corpo em êxtase profundo,
Não tinha forças para mover-me...
Quis calar a voz entre beijos
Arrancar os íntimos desejos
Para não ir...
Do seu lábio, porém, só as palavras infames:
É tarde, tens de ir!!!
Que ironia – injusto destino,
A mesma boca de juras apaixonadas
Mandava-me sair.
Já a alvorada surgia, o dia amanhecia e
— Tu tens de ir.
Um papagaio parecia
A repetir a mesma ladainha
Palavras sem nenhuma magia...
Dize-me a verdade, queres-me aqui!!!
E em seu leito eu rolava
O seio nu, louco eu beijava
- É tarde, tens de ir.
Não ouvi suas palavras
Tonto, eu a desejava.
Não vi a porta se abrir...
.................................
O pai de punhos cerrados
Entrou irado, querendo, a mim, partir.
Da cama pulei assustado,
O corpo banhado, de suor ensopado...
Deus! Tirai-me daqui...
Saltei, como gato, a janela, assustado.
Coitado, sem roupas nem sapato
A correr desenfreado, intimidade à mão.
Da janela, ela me olhava, o rosto inebriado
Sussurrando entre os sopapos:
Era tarde, tinhas de ir...