DOIS COPOS VAZIOS.

A indelicadeza de tuas palavras

E o destrato no meu olhar.

O choro contido pelo desprazer

Acrescentava o ódio cintilante,

Exposto em nossos olhos arroxeados.

Dois copos, vários cigarros e algo mais.

O rancor no ato silencioso era determinante.

Emanava a discordância letárgica.

Feito um furor arrebatador, caminhava,

Impregnando o ambiente hostil.

Roupas amassadas jogadas ao vento

E arremessadas com brutalidade

Na surrada e inadequada mala nômade

Tatuada com infinitas despedidas.

As palavras haviam cessado

Diante do aterrador e inoportuno orgulho

Forçado pelo lastimável descaminho.

Teus passos, o corpo em movimento.

Não vislumbrei o habitual e sedutor rebolar

Que embalava a vontade e o desejo.

Nenhum abraço, nenhum afeto.

A animosidade interceptando o diálogo

E descartando por definitivo

A providencial prática do beijo.

Alianças derretidas, atiradas ao chão.

O amor sufocado no inerte coração.

A porta rangeu espancada.

O trinco arrancado com fúria.

A buzina do táxi castigando.

Nada havia restado para ser lembrado.

Olhei minha vida se ausentar.

Observei seu vulto invadir a névoa.

Estático, ainda esperei o último olhar.

Até seu rastro foi engolido pela densa garoa.

Fragmentos do espelho da vida

Espalharam-se em meu caminho.

Toda a habitual vivacidade,

era agora, sombra mordaz do abandono.

Várias garrafas vazias incentivando

A devassa em mim e trazendo

A cancerígena nicotina que tingia o ar

De um sofrimento iminente e drástico.

E nunca mais pude enxergar o mundo

Que não fosse através de inócuas trevas.

O negrume aterrorizante do abandono,

Trouxe consigo a apatia mórbida.

Não havia mais elo, cumplicidade.

Apenas a certeza do inevitável fim.

Um quebrante amoroso,

Evidenciava a mortalha em mim.

Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 24/06/2005
Código do texto: T27512