DOIS COPOS VAZIOS.
A indelicadeza de tuas palavras
E o destrato no meu olhar.
O choro contido pelo desprazer
Acrescentava o ódio cintilante,
Exposto em nossos olhos arroxeados.
Dois copos, vários cigarros e algo mais.
O rancor no ato silencioso era determinante.
Emanava a discordância letárgica.
Feito um furor arrebatador, caminhava,
Impregnando o ambiente hostil.
Roupas amassadas jogadas ao vento
E arremessadas com brutalidade
Na surrada e inadequada mala nômade
Tatuada com infinitas despedidas.
As palavras haviam cessado
Diante do aterrador e inoportuno orgulho
Forçado pelo lastimável descaminho.
Teus passos, o corpo em movimento.
Não vislumbrei o habitual e sedutor rebolar
Que embalava a vontade e o desejo.
Nenhum abraço, nenhum afeto.
A animosidade interceptando o diálogo
E descartando por definitivo
A providencial prática do beijo.
Alianças derretidas, atiradas ao chão.
O amor sufocado no inerte coração.
A porta rangeu espancada.
O trinco arrancado com fúria.
A buzina do táxi castigando.
Nada havia restado para ser lembrado.
Olhei minha vida se ausentar.
Observei seu vulto invadir a névoa.
Estático, ainda esperei o último olhar.
Até seu rastro foi engolido pela densa garoa.
Fragmentos do espelho da vida
Espalharam-se em meu caminho.
Toda a habitual vivacidade,
era agora, sombra mordaz do abandono.
Várias garrafas vazias incentivando
A devassa em mim e trazendo
A cancerígena nicotina que tingia o ar
De um sofrimento iminente e drástico.
E nunca mais pude enxergar o mundo
Que não fosse através de inócuas trevas.
O negrume aterrorizante do abandono,
Trouxe consigo a apatia mórbida.
Não havia mais elo, cumplicidade.
Apenas a certeza do inevitável fim.
Um quebrante amoroso,
Evidenciava a mortalha em mim.