Revelação ( Áurea: é a mais pura verdade )

Me lembro daquele dia em que os teus olhos tímidos

me olharam

E eu vi neles a ternura de uma alma santa;

Mas guarda-te de mim!

Pois o fogo que arde em meu peito só a mim

não fere,

Só a mim ele não queima;

E o desejo que o acompanha é o fomentador da discórdia

entre mim e a razão;

Sim, guarda-te de mim!

Pois meu mundo é confuso e só eu consigo transitá-lo;

É insalubre, devora a alma por ocasiões,

De tal maneira que chega a tornar a vida

insuportavelmente dura;

E só a luz que restringe os meus passos em direção

ao passageiro, à vida que

se esgota,

É meu conforto;

Por isso, guarda-te de mim!

Porque sou passageiro do acaso;

Que estou mas posso não estar;

Que brindo a alegria e ao mesmo tempo abraço

a tristeza,

Tudo em nome da esperiência do sentimento

Que me arrasta a bel prazer pelos caminhos da confusão;

Mas eu não me importo!

São esses caminhos que me trazem a luz;

É desvendando os seus mistérios que aprendo a ser

maior,

Maior que a ilusão,

Maior que a decepção,

Maior que tudo o que me prenderia aqui, neste tempo

de angústias e pó...

Guarda-te de mim!

Porque peregrino sou e devo seguir a luz,

Devo persegui-la porque nisto minha vida consiste,

E não há trégua!

Dia e noite quero assim:

Na alegria e na tristeza,

Na guerra e na paz,

Cumpra-se o meu desejo de ver brilhar infinitamente

nos olhos dos cegos

As cores que emfeitam a criança;

De ver caminhar lado a lado o velho e o moço

e a inocência,

E seus caminhos se fundirem num só...

Guarda-te de mim!

Pois também sou o carrasco da corte;

E, às vezes, sou a venda nos olhos do rei que

condescendente é com o malicioso

bobo que livremente circula

pelo salão a pilheriar

com os nobres...

Saga sem fim é o tempo:

De luz e escuridão, de fé e razão,

De dia e de noite, incansável é a vida que respira,

transpira e inspira dentro de

mim

A certeza de vencer...

A certeza de que tudo é simbólico e que a verdadeira

causa de tudo

Não é o simples abraço ou o beijo;

Não é o calor da pele nem a deturpação do pensamento;

Tampouco o descompasso do coração;

A verdadeira razão de tudo são as cores que se vê

no céu...

Sim, guarda-te de mim, mas não do meu amor!

Ele, sim, será companheiro e amigo e não te abandonará

quando dele necessitares;

Quando ao sabor da ilusão teu pensamento estiver

Apóia-te nele, no meu amor!

Pois que ele é o que de verdade te posso dar;

E sua singeleza aquecerá teu coração quando a incerteza

o atingir...

O amor é o espírito da vida!

E a minha vida vive para o amor:

A causa de tudo!

A razão para tudo!

A razão de tudo!

A minha razão porque, sei, os céus são eternos!

Então, guarda-te de mim,mas não dele, do meu amor;

Receba-o com teu sorriso!

E ambos fundir-se-ão num facho de luz dígno de iluminar

a esperança

De que um dia todos verão a paz,

Mesmo que através dos olhos alheios...

Geraldo Magella Martins
Enviado por Geraldo Magella Martins em 24/01/2011
Código do texto: T2748619
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