Expresso solidão

Expresso solidão

Abilio Machado. 2011

Na ponta dos dedos queimados

Os olhos vidrados que andam

Sem rumo e sem sentido na margem do tudo

Pela viela caída ao grito profano

De não mais haver fé

Nem mesmo nesta estação escura

Poucas luzes a mantém com alguns pontos de assustadora visão

Crianças e jovens andam como zumbis

Desfalecidos pela fumaça queimada nos vãos dos dedos

Cheirando a carvão

Pois assim cantava aquela canção

Tocada pela pedra dentro do cachimbo em explosão

Seus olhos parecem perdidos

Parecem carentes de vida

Isolados neste clima de mundo frenético

Sem espaço do tempo

Sem tempo no agora

E sem esperança a acordar

Este vício parece uma rede

Que internam as mentes

E só a ela desejam retornar

Como se a sua ausência fossem dores

Dores de saudade de uma vida que ninguém quis

E é assim que este som gemido

Saído dos seus piores pesadelos se perdem sozinhos

Na escuridão desta linha

Sem horário marcado para saírem deste estado de anti-vida

De se darem chance

De acordarem o coração

Mas só o farão quando acabarem os desgostos

E houver mais calor aos corações...