AMOR-- surreal
De canção e oração! Assim é feito o meu amor.
De pensamento, tormento, lamento.
Lástima de lágrimas.
Sonhos vãos que se vão, como bolhas
de sabão!
Firme como rocha, quente como tocha.
Adormecido, límpido e sereno.
O meu amor é intacto, desvairado,
levado de mão em mão!
vil, num covil de mágoa.
Queria ser a sombra, que vive
que não sabe que vive.
Que é guiada por uma vida qualquer,
de gente ou de bicho.
De objeto humano ou inanimado
Mas sendo eu sombra, não teria
um amor assim: de canção que não vale a
pena ser cantada, de oração
elevada ao Altíssimo que tudo ouve e
tudo ver.
Mas que me deixa continuar a sonhar.
Amor meu, de lamento e amargura
sem a finura da correspondência.
De um ser que invento, estou sempre inventando.
Criando alguém que não existe,
que apenas estático num canto da casa
do meu coração me assiste atlante,
e eu anacoreta, esconso na janela de
minha vida.
Não! a sombra não quero ser,
e sim o ser que a comanda
talvez assim, o amor por mim
viesse em demanda.