O Berrante da Cabocla
Dedico essa poesia a minha amiga e querida poetisa aqui do Recanto Morganalia e ao seu querido pai. O berrante representa a tradição, é uma das poesias sonoras do sertão, é uma arte representada por homens e mulheres que fazem dessa profissão uma paixão. Para se ouvir um berrante não basta apenas ter ouvidos e preciso sentir com o coração.
Eu já tive um amor no passado
Mas veio o tempo e acabou com a nossa união
Sou a moça triste que campeia o gado
E que chora toda vez que ouve um berrante ecoar pelo sertão
Em cima do cavalo paro por um instante
Fecho os olhos e ouço aquele som vibrante
Sobre a proteção e zêlo do meu velho pai
Recordo com tristeza um amor que não volta mais
Indo em busca de um gado selvagem
O berrante repica como quem pede passagem
Sou cabocla e não tenho medo de ir atrás de um maruá
Mais no amor sempre recuo com medo de me machucar
Diante do pôr do sol em respeito a natureza tiro o chapéu
Não tem jeito a saudade faz morada no peito da cabocla Raquel
Com destreza vou atrás da novilha desgarrada
E a noite ao relento durmo sob a lua iluminada
Para matar a sede a boiada vai até o ribeirão
Eu acompanho e o suor no meu rosto denuncia o calor no estradão
Um banho seria gostoso mais não nado em rio que tem piranha não
Quantas moças berranteiras existem por esse país afora
Ao vê-la tocar o berrante de mágoa o peão até chora
O que é que nesse mundo uma cabocla não faz
Para ser independente e sempre dar orgulho a seus pais
Em cada parada para um caboclo ela diz não
Sou berranteira não sou moça de diversão
Meu coração nessa vida ninguém laça nunca mais
Como despedida tocarei o berrante para que nunca esqueça da moça de Batatais...