GRAMÁTICA ERRADA
G R A M Á T I C A E R R A D A
Te amo! É gramática errada
Amo-te! É conjugação ensinada
Só amo! É proposição atrasada
Ame-me! É temática da amada
Para amar são tantas as figuras de linguagem
Não amar é muita sacagem
Uma metáfora: meu amor é alimento
Minha amante: grafia do momento
Amor, palavra abstrata: anacoluto
O amor por si só é absoluto
Recusar o amor é coisa de quadrado
Ah, como te amo! Desesperado.
Amo-te é mais-que-perfeito
Não te amo é imperfeito
Amei-te não é particípio, é passado
Amando é gerúndio, daí sou amado
Amor é o elo do conjuntivo
Amar é infinito do infinitivo
Não amar é viver no subjuntivo
Só amar, falta o sincretismo
Em amo-te, “te” é sujeito
“Eu” oculto, sou suspeito
“Te” também pode ser pronome
“Amor” para mim é seu nome
Se amarmos, não tem adjetivo
Amarmo-nos é nosso objetivo
Amem, é uma bela frase
Ame-a não suscita crase
O amor é substantivo epiceno
Não amar é obsceno
Meu amor: pronome possessivo
Como amo! Conectivo comparativo
Amor... amor... amor... é cacofonia
Amar e gostar é uma analogia
Amo e amo: a conjunção é aditiva
Amo-la, minha decisão é definitiva
Amar e gostar são homófonos
Amar e amar são homógrafos
Amo o amor é aposto
Amar-amor é composto
Amar é adorar abreviado
Estou morrendo de amor: obcecado!
Coração que ama tem cedilha
Amamo-nos sem armadilha
Amar o amor é pleonasmo
Às vezes leva ao orgasmo
Por isso não amar é ridículo
Para amar não necessita currículo
O verbo amar é direto
Mesmo conjugado errado é correto
Amá-la-ei é mesóclise
Te amo é próclise
Amar é ditongo linguodental
Os amores; é flexão no plural
Amar-te é sem condicional
Amar-te-ei até o final
Amo-a muitíssimo: superlativo sintético
Será se me amas? Hipotético
Não amarás, é utopia
És amada sem fantasia
Hoje te amo neste instante
Amei-te, amo e amarei, constante
Amanhã a amarei loucamente
Assim, amo-te apaixonadamente
Não amo! Burra negação
Meu amor! Linda exclamação!
Amo-te bastante; advérbio de quantidade
Sempre a amarei por toda a eternidade
(março/1975)