BOCA QUE BEIJA OUTONO
Nas noites altas
o amor cavalga
no lombo dos sonhos.
Uma boca que beija
o outono da janela,
beija eu, beija ele, beija ela.
Nas madrugadas mudas
até os frios e apáticos
se mostram intensos.
É que a lua surda
desanda a brilhar
sobre os lençóis da cama.
É que pela fresta ela
também quer acariciar
uns corpos terrestres...
Depois, ruborizada,
se esconde por entre
as nuvens de algodão.
E, em outra noite qualquer,
se fingindo outra mulher,
brilhará noutras camas.
Mas, para os incautos poetas
ela se mostra sempre dama,
uma deusa acima de nós...