Lágrimas Doces

Os doces produzidos de maneira artesanal e familiar no interior dos quatro cantos desse Brasil, geralmente são tbém feitos por milhares de moças que com carinho e trabalho transformam a cana dura em uma doce e suculenta rapadura. A linha é tênue entre o fel e o mel, mais todas elas sabem o que sente essa moça chamada Raquel.

Rapadura é doce mais não é mole não

Sou a moça que tira o sustento e absorve a sabedoria do sertão

A cana de açúcar foi cortada no dia anterior

Produzir qualquer alimento tbém é um ato de amor

Enquanto a cana passa pelo engenho onde é moída

Abro os meus olhos e digo bom dia a vida

Enquanto trabalho ainda nem amanheceu e vejo algumas estrelas ainda no céu

Encontro os olhos do meu avô como a dizer é para o seu bem Raquel

Porque nessa vida não adianta só ter bom coração

Uma moça do interior deve aprender a cultivar todas as riquezas do sertão

A garapa que pelos meus lábios escorre

Segue seu curso até os tachos de cobre

Ascende-se o fogo numa fornalha gigante

O calor , o cansaço e o perigo da queimadura as vezes impede de se dar um passo adiante

Mais em meio a tudo isso me sinto mais forte do que antes

Depois de horas fervendo a garapa se transforma em melado

Meu avô me olha como se visse em mim alguém do passado

Percebe no meu rosto traços e a garra de minha avó que não esta mais ao nosso lado

Sorrindo vejo o melado se transformar em rapadura

Sou feliz e como tantos tenho a vida dura

Despeja-se em fôrmas e espera o doce esfriar

Recitando poesias é hora de embalar

O dinheiro nunca posso em supérfulos gastar

Minha parte junto para outra cabeça de gado comprar

E ao meu pequeno rebanho a invernada juntar

Cansada dispenso até o jantar

Subo no meu cavalo e vou para perto da serra a lua esperar

Engana-se se pensa que vou chorar

Nenhum filhinho de papai vai mais nessa vida me humilhar

Na terra eu nasci e nela vão me enterrar

E diante dos meus olhos vejo o gado se multiplicar

Fruto do trabalho de uma moça que não tem medo de se sujar

Volto a galope para casa e meu banho vou tomar

Debaixo do chuveiro é o único lugar que me permito chorar

Mais quem pisa nos outros no meu coração não tem lugar

Sou determinada e dentro de mim não existe lugar para seu amargo fel

Mais do que palavras minhas atitudes me fazem sentir orgulho de me chamar Raquel

Porque minha maior riqueza é ter nascido doce demais

Como a rapadura produzida pela família da moça da Batatais...

Raquel Cinderela as Avessas
Enviado por Raquel Cinderela as Avessas em 16/01/2011
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