As palavras também fazem amor
Ter o teu corpo, ó júbilo de todos os deuses!
A orgia dos sentidos é o sussurrar em teus ouvidos
palavras que nem às paredes posso contar.
Pois por elas censurado, diriam ser proibido.
Dariam-me castigo, por tal ínfimo linguajar.
E a língua que beija é aquela que leva a outra,
a língua que fala, descompromissada e solta,
a linguagem dos amantes, pecadores constantes.
Mais um beijo vem à boca; é um ciclo sem pudor.
Uma sobre a outra, mas sem nunca se sobrepor.
Dois corpos suados, faço-os de meus poetas!
Cama revolta, de folha branca que a tudo aguenta:
os movimentos que determinam a forma e a rima,
a música gemida cuja melodia só o prazer combina,
o gozo final: obra apreciada, desejada, agora finda.
As palavras fazem amor, tão quanto os amantes:
penetram-se, misturam-se, germinam a cada instante.
Que de tão cansadas e viris, iguais a mim e a ti,
entregam-se ao sono, dormindo aos braços de Morfeu.
Assim como tenho-te agora aqui: a sonhar envolto aos meus.