As palavras também fazem amor

Ter o teu corpo, ó júbilo de todos os deuses!

A orgia dos sentidos é o sussurrar em teus ouvidos

palavras que nem às paredes posso contar.

Pois por elas censurado, diriam ser proibido.

Dariam-me castigo, por tal ínfimo linguajar.

E a língua que beija é aquela que leva a outra,

a língua que fala, descompromissada e solta,

a linguagem dos amantes, pecadores constantes.

Mais um beijo vem à boca; é um ciclo sem pudor.

Uma sobre a outra, mas sem nunca se sobrepor.

Dois corpos suados, faço-os de meus poetas!

Cama revolta, de folha branca que a tudo aguenta:

os movimentos que determinam a forma e a rima,

a música gemida cuja melodia só o prazer combina,

o gozo final: obra apreciada, desejada, agora finda.

As palavras fazem amor, tão quanto os amantes:

penetram-se, misturam-se, germinam a cada instante.

Que de tão cansadas e viris, iguais a mim e a ti,

entregam-se ao sono, dormindo aos braços de Morfeu.

Assim como tenho-te agora aqui: a sonhar envolto aos meus.

Dan Niel
Enviado por Dan Niel em 11/01/2011
Código do texto: T2722438
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