*** MINHAS METADES ***
Trago em mim, a metade de quase tudo.
Das saudades dos amores perdidos.
De um bem maior e de males já resolvidos.
A efemeridade de uma paixão,
e a eternidade de um recém nascido.
Trago a fúria de um leão ferido,
aceitação do cordeiro indo à degola.
Trago em mim a fragilidade do bambu,
na flexível vitória contra o vento.
E a força imortal de um pensamento.
Sou tanto sol quanto amo a chuva.
Tenho o gorjear de pássaros em tarde finda.
E o badalar de sinos de capelas bucólicas,
na manhã de um domingo após a colheita.
Trago a alegria de uma mesa em dia de ceia.
Trago também, a reticência de quem olha o horizonte.
O pranto de uma espera aflita,
do eterno conflito de um mortal pela vida.
A tranqüilidade de uma criança,
quando adormece no colo de seus pais.
Meu todo divido em metades.
Pois sou criatura e também sou criador.
Viver e ser a própria vida.
Numa metade o absolutismo que tudo quer,
e noutra metade, fazer tudo por você!