Por que me perturbas,
através deste quadro?
A pintura torna-se viva
quando, com jeito leviano,
tu te deixas pousar
no suporte da lâmpada!
Atormentar-me,
eu sei que pretendes,
em razão d’eu
não querer admitir
que te amo ...
Maldita bruxa!
Por que voas para o quarto,
e quando, de ti, vou atrás,
desapareces, deixando-me perdido
na ânsia do teu encalço?
Quero negar a pintura,
anular feiticeira imagem,
que nela se enquadra ...
Mas não posso!
É a única senda
por onde posso caminhar!
Não, não quero
ver-te passando em voo,
com tuas peludas asas
de obscura mariposa,
a espalhar o pó dos séculos,
para, meus olhos, cegar ...
Preciso não enxergar!
Porém, quero sentir-te,
linda na grande obra,
por mim, um dia, pintada,
e nesta vil parede, postada!
Mulher, tu não me esqueces,
nem me deixas esquecer-te ...
De longe, vens,
cruzando o vazio éter,
trazendo o fogoso carinho
que queima
minh’envergad'alma,
que ainda pede por teu amor!
Não importa que a dor,
em vão, não sare meu espírito ...
Estarei sempre, teu retorno, a esperar,
sem querer, nem poder recuar,
pois invade-me ainda,
teu velho amor secular!
Nota do autor.
“Nesta peça poética, o velho amor secular confunde-se com nosso ininterrupto caminho de finitudes.”