AS QUATRO ESTAÇÕES
Acabo por comparar o Amor com o tempo.
Ora distante, reflexivo como devem-se sentir as folhas do outono.
Buscando inevitavelmente novos rumos… ledo engano.
Apenas ciclo. Se não… não seria o Amor.
Há que chorar… secar prantos e galhos.
Há que arrefecer… para que possa desabrochar e desabrochar… Encantos.
Ora passional como quem vai morrer…
Ardente e inquieto como o verão que anuncia sorrisos.
Enlouquecendo as cores do mundo… pois que tarda o cair da noite.
E acordam… muito cedinho… os raios nas janelas da alma.
E como queimam… e quantos delírios e juras de verão.
E tantos sorrisos desmedidamente escancarados em promessas do eterno.
Tantos credos… tantas formas. E ausência de formas.
Talvez um leve “pecadinho”… quem sabe.
O Amor… sempre tão relativo e contundente. E confuso.
Ora chove para dentro… pouca é a luz.
Apenas alguns raios de lucidez de quando em vez.
E como são frustrantes… angustiantes estes rápidos clarões.
Nos deixam racionais demais… Não cabe racionalidade no Amor.
Ser racional… ser comedida… decididamente não cabe no Amor.
Quero ser passional e louca… louca por ti.
Louca por ti quando estás em mim… quando me tiras a veste e a alma.
Roubas… roubas-me sempre. Não pára…. Nunca.
Afasta esta lépida e estúpida lucidez de mim… não a quero.
Não me serve. Não me cabe.
Ora quero ser flor - Jasmim… Terna pousar em teu olhar.
Quero ser Rosa rubra… como parte de mim desejando a ti… ardentemente.
Quero ser Lírio cheiroso… quando tocares os meus cabelos… bem devagar.
Ser Rosa branca pacífica… depois de tudo o que deu cor a nós.
Deu cheiro e tom. E espalha-se no ar de todos os amantes.
Ora é primavera o Amor… Há cantos de pássaros a pousarem em nosso cheiro.
Há leveza… ternura… repouso em ti. Em mim depois de ti.
O Amor… o Tempo… Apenas depois de nós.
Karla Mello
Janeiro 2011