O cair do sono na tua sala
LXXIV
Nos amamos num sofá viajante
conscientes das forças biológicas
procurando a subcistência dos nossos braços
as nossas unicas necessidades lógicas,
cumplicidade que nos dá conforto
como já havessemos nascidos abraçados.
Sinto que por ti tudo faço
e o que não consigo, invento
passo por mil tormentos
e por mais outros tantos passo,
sei que o faço,
ãté me converter em cansaço
a um entoado bocejo,
a uma luz que nos cala
cai a noite na tua sala
...caimos os dois no mesmo desejo.
Fixo os teus olhos sem nada dizer
tentando nos teus sonhos penetrar
mas tu dizes para parar
e escondes-te envergonhada,
disfarças-te de almofada
só deixando revelar teus lábios
que em movimentos sábios
me seduzem como corpos fantásticos,
se unem aos meus por ti fanáticos
beijo-te como se te quisesse agarrar.
«Não escondes teu rosto que é perfeito
e deixa-me captar
parar quando for, o levar
sem que pense agora
em ir-me embora.»
os dois na mesma quimera deitados
e tu de olhos bem fechados
meu sigiloso pedido medes
e tua preciosa face me concedes
tão calma, tão linda
ao te ver amo-te mais ainda,
teu rosto, o céu e o mar
feitos por Deus para eu olhar.
Ali quebramos o tempo
e ficamos sós, só nós
sem mais nada para saber,
(sem o pedir ou o querer)
sentimos o coração a abrandar
ouvindo a bela musica ao chegar
das fadas daquele dia,
que te fizeram ali adormecer
estendida no meu peito
como um jardim de corpo feito
sem nunca desfazer o arranjo
pois se tratava de um anjo.
Tomando a tua mão macia
entrelacei meus dedos nos teus
e bebi teus sonhos por entre a pele
em tragos doces e quentes
inundando os meus moribundos
básicos e em menor número,
me habituando ás imagens
que vigoram na tua fantasia,
tentando as imaginar
mesmo que a mim sejam invisíveis.
Abri os olhos de novo
e de certeza os enchi
com eles postos em ti,
que a sorte me bafejou
e a minha sorte não é menina
é mulher suave de figura fina,
é o teu abraço meu adorno,
é teu amor onde fluí meu sono.
Miguel Lopes