Abandono
A casa já não é mais branca
O limo de tantos anos a escureceu
Nem me recordo mais da posição dos móveis
Só os imagino,em decomposição
Úmidos,mofados
Testemunhas mudas daquilo que já foi gritante
Silenciosos
Aprisionados à casa
Junto com antigos sentimentos
Parecem coisas de museu.
Já não é necessário acender o abajour do quarto
O medo do escuro já não mais apavora
E a cama está vazia
Tanto quanto o coração que a imagina.
Que me importa se a janela foi esquecida aberta?
Ou se o pano do sofá se encontra desbotado?
Desnecessária preocupação.
O caminho ainda será o mesmo
Mas o atalho é cúmplice da minha angústia
E desvia cada paralelepípedo do passado
E o tempo,
Sobretudo o tempo apagará tudo
quem sabe o que nos trará o dia de amanhã?