Não sei por que estou me sentindo as vésperas de uma viagem num navio.
A sensação que vou embarcar com centenas de pessoas é muito intensa.
Mas o intrigante é que me sinto indo para um novo Titanic e com o mesmo destino; naufrágio absoluto.
Consigo perceber o cheiro do mar, escutar os passos em direção ao navio de forma tão nítida que está me angustiando demais, porque sei que não há saída, nem é possível uma desistência desta viagem.
Não é sombrio, é melancólico, algo inevitável apesar de...
Apesar de, estamos preparados. Temos nossas bagagens inúteis prontas e seguras pelas nossas mãos.
Vejo a marcha pelo porto, o vai e vem que na verdade só vai.
Suponho que seja o luto pelo qual passamos a cada final de ano. Aquilo que fazemos mesmo que inconscientes; o balanço do que fizemos durante o ano que termina. Nossas perdas, nossas conquistas, sonhos realizados, sonhos abandonados pelo caminho...
Observo que uma bondade excepcional tomou conta de todos, coisa de luto mesmo, de certa tristeza suave que nos envolve.
Não queria sentir e nem dizer nada disto, mas outra sensação me esmaga; a de que alguém, em algum lugar, precisa saber que sentimos o mesmo.