Peçonha

Desconfio que o teu amor

seja também o meu

veneno.

Pois me definha.

Teu beijo quente

disfarça a mordida

- saliva ácida

E eu, encantada

pela sonoridade

de teu sibilar

macio,

me (re) aproximo,

completamente esquecida

daquela última dor.

E novamente me sinto

inoculada - tua essência

a domar meus sentidos,

a tomar meu corpo,

a correr em minhas veias.

Não há

antídoto para um veneno

tão bem disfarçado de amor.

Chego até a acreditar,

pouco

antes de sentir o sangue

a ferver, a pele a enrubescer,

a vista, a inebriar.

Pisco os olhos levando neles

uma imagem

tua - delírio meu.

Respiro fundo

e te guardo

aqui, completa(a)mente

anestesiada,

até a ferida sarar.

Ao longe,

meu mundo prestes a ruir.

Enquanto aqui,

dentro eu sinto

tudo

- a necrosar.