Poema 0848 - Do teu amor meu

Mereço crer, ainda que não acredite,

quero a vida, ainda que não a mereça,

o eterno se desfaz quando a carne esfria,

ficam as lembranças e promessas vãs.

Sê do teu hoje apenas,

respire teu ar milhares de vezes,

não queira outro manhã,

aceite teu tempo, teu limite.

Vê-te entre tuas frestas de paixão,

não pedaços, restos mortais.

Em todas as lutas, na vida,

acredita-se que nada é para sempre.

És tu que um dia gritou liberdade,

abriu passagens em nuvens enfumaçadas,

caminhou em teus sonhos de eternidade,

e acordou, ainda eras tu, tu e mais ninguém.

Digas-me onde começa o dia e onde começa a noite,

direi-te onde começa a razão, a palavra,

as juras todas falsas,

o mundo não tem lados, apenas existimos.

Meu sonho pinta o céu de azul, dourado, ora outra cor,

procuro um começo a cada manhã, me diga,

que linha desenho antes do horizonte,

de que és feita, a mulher, o homem, Deus?

Deixe que as palavras se joguem da tua boca,

importarei-me se morreres, se eu morrer, sim,

guardo um pensamento para depois e acredito,

o teu silêncio tem peso do meu, meu amor o peso do teu.

Adormece noite, adormeças enquanto é noite,

deixa encantar-me com teus olhos de lua

e esqueça-me no teu colo macio,

enquanto sonho outros amanhãs para tua vida.

Queira-me ainda que me esqueça daqui a pouco,

ama minh'alma que é tua,

troca tua vida pelo desejo que me tens,

nada prometo por agora, que imortal seja o amor.

Trocar-te-ei pelo desconhecido se não me crê,

vê teu corpo, mistura-te ao meu desejo,

quando lembrar de ti serei eu o amor,

quando lembrar do amor, seremos nós.

18/10/2006

Caio Lucas
Enviado por Caio Lucas em 18/10/2006
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