NOTURNO

Tenho a angústia

dentro de uma garrafa.

Tenho a vontade de partir.

Na rodoviária,

o último ônibus do dia.

A lua esquadrinha o céu.

Poderia estar na rua,

encontrar os amigos,

falar de outras coisas

para esquecer

a dor de tua ausência.

Na rodoviária,

ainda resta uma passagem.

Mas tenho a angústia

dentro de um copo.

Cristalino, o álcool me apaga.

Um rato, único companheiro

de uma noite que parece sem fim,

me diz alguma coisa

sobre os esgotos da cidade.

Quem sou eu para falar de esgoto,

de sarjeta, de abandono?

Ela agora dança

em minha memória.