Martírio
À noite, quando meus sonhos ardentes
Fazem-me resvalar macilento no leito,
E a insônia lateja-me as artérias;
Teus amores, T...,arqueja-me o peito.
Vejo-te pura, entre as nuvens alvacentas
Dos meus devaneios frebis e tresloucados;
Brilhante e grácil qual flor purpurina,
Pueril acariciando os cabelos perfumados.
Às vezes te vejo pálida, desgrenhada
Os olhos turvados numa tétrica solidão
Pergunto-te: por que deixaste o verminoso
Libertino, magoar teu inocente coração?
Não tenho resposta! apenas contemplo
Nódoa purpúrea, que tuas faces vela...
E longe, num lupanar pecaminoso
O libertino, que de ti ri, virgem bela!
Entre os véus diáfanos da noite escura
Blasfema o covarde! enquanto eu pranteio
Temendo o sepulcro fogoso e pútrido
Que parece me esperar para o enleio.
Ele e as venais, atônitos riem de ti
E eu, sinto as lágrimas amarelas e frias
Que dos teus castanhos olhos de anjo
escorrem , pelo vagabundo das orgias.
Murmuram teus pequenos lábios de nácar
Chamando-o debalde! acorda afermentada
Minh’alma, que outrora, cheia de luz
Nutria tua suave doçura, virgem adorada.
Arfa em meu peito, minha imortal ternura
Desperto pálido, debulhando-me em pranto;
E só, em minha alcova moribunda, pergunto
A luz rutilante do teu harmônico encanto:
Anjo do meu amor! vestido de branco
Quando este borracho poeta adormecido
Num rio lodoso de esperanças vãs...
Amar-te-á, antes de ser na campa esquecido?
Dionatan