A MULHER
Ela me abraça
e, sem perder tempo, revela
as minhas fraquezas.
E eu me rendo
ao calor de seu corpo.
Deixo de ser abrupto
em seu colo.
O amor verdadeiro
não precisa de palavras
e, em silêncio, cruzamos a noite.
Às vezes é ela
que vem e se aninha
em meus braços cansados.
Mas o que é o cansaço
se abraço uma porção de Deus?
Deixo de ser descrente:
seria imperfeita
a mão que criou a mulher?
Foi um acaso cósmico
que formulou o mais belo teorema,
a mulher?
Se Deus é amor,
Ele está absoluto
quando me rendo e confesso,
com o olhar e a alma,
o quanto amo essa mulher
que se move,
se aproxima
e me desvenda.
Essa mulher se aninha
não apenas entre meus braços,
mas em meus recônditos espirituais.
Há homens presos a mentiras:
reduzem a mulher
a um pedaço de carne bem ajambrado,
se acham proprietários,
e, com isso, jactam-se
de uma falsa grandeza.
Mas a posse pura e simples
esconde, oprime a beleza
verdadeira
da mulher.
Flores pisoteadas
não mostram cor nem perfume.
E eles se tornam menos homens,
não-homens,
estátuas sob o limo.
Não temo em dizer,
não fico menor em dizer
que uma mulher me faz homem,
não na penumbra de um quarto, à noite,
mas no cotidiano,
sob a luz do sol,
quando ela me seduz
e faz brotar em mim
a alegria,
a força,
a coragem de persistir.
Eu, que era metade,
sou inteiro,
de braços dados com a mulher.