FUGIR DO AMOR
De todas as formas, tentou fugir do amor.
Engajou-se em lutas, foi guerrilheiro,
abraçou as causas mais nobres
para fugir do amor.
Ele não se queria romântico,
não se queria meloso,
queria ser de mármore
no coração.
De todas as formas, tentou fugir do amor.
Rejeitou os poemas de amor,
tapava os ouvidos ao som das canções,
fantasiou-se de feio,
de ogro, de parede,
invisível diante dos outros.
Importava a luta,
importava vencer
seja lá o que for.
Tentou fugir, tentou escapar:
amor - uma perda de tempo.
Mas, um dia, numa tarde cinza
em que a tristeza se expandia
como uma teia de aranha,
ele passava diante de um rio,
e olhava as águas.
Havia uma tristeza
que ele não entendia.
Ele estava na luta,
ele era engajado,
ele sabia as causas e as conseqüências.
Mas estava triste
e olhava as águas.
De repente ele viu,
feito uma epifania,
saindo das águas,
a mulher.
Ela se banhava,
vestido colado à negra pele,
seios túrgidos,
mais menina que mulher.
Era ela, a mulher.
E ele, que nunca havia sentido
essa tão fulminante falta de sentido,
pareceu se desfazer.
A mulher olhou para ele
e sorriu.
Finalmente ele se sentiu capturado:
prisioneiro nas teias de uma paixão.
De todas as formas, tentou fugir do amor.
Mas, da forma mais simples,
o amor o cativou.