SERENATA

Durante a madrugada,

violões escorrem

e, em meu silêncio,

apuro os ouvidos.

Serenos, os homens cantam

velhos motivos do passado,

serestas eternas,

vozes duras como o ferro

que, de repente, ganham

a leveza de uma asa.

Não consigo dormir

entretido com os sons,

cujas lâminas cortam

a parede de meu quarto.

Fecho os olhos

e os sons fincam

suas marcas em meu corpo

e canto com eles

as canções de outros dias,

sem saber se sonho ou não.

Sons coloridos,

sons em tom sépia:

vejo os dias que perdi

esperando um amor.

O amor está a meu lado

e dorme, sonha, descansa.

Não durmo, imerso nos versos

despejados pelos violões

que esperam a chegada

do trem férreo da manhã.