UM AMOR VIRTUAL

O pranto, em meus olhos, não desminto,

Pois este amor não real é o meu tormento,

E como o outro é envolvente sentimento,

Que me faz ébria perdida num labirinto.

Sou poetisa que maneja a pena virtual,

Como manejavam os antigos vates a lira.

Escrevo rimas, falo de amor no espaço sideral,

Com palavras ardentes, brasas de sagrada pira.

Se acesso e ele não está, meu respirar não sinto,

Acelera forte o coração e o mundo é finito.

O ciúme explode e só restam escombros

Que, como Sísifo, carrego nos ombros.

Que ninguém diga que é batalha inútil,

Que amor eletrônico é coisa de gente fútil,

Porque, muitas vezes, no mundo da virtualidade

Ele é mais sincero e pode trazer felicidade.

Não venham os entendidos, os adivinhos e doutores,

Dizendo que é utopia na escala dos amores,

Que um sentimento, gerado dessa forma, é anormal,

E que só um louco vive um amor virtual.

É neste fenomenal humano invento,

Que à noite eu o tenho em meus braços,

E a ele, confesso meus sucessos e fracassos,

Como preces no altar dum convento.