QUADRANTE

Tudo pode acontecer

o canto inesperado

os lábios secos, sem beijos,

um naco de amor guardado.

Num baú a nossa história

adormece sem pecado.

Tudo se pode esquecer

o terror do descaminho

a ânsia do vôo alçado

as pedras, o andar sozinho.

O vale dos desenganos,

a ave que perde o ninho.

Tudo se pode querer

a voz de ouro liberta

a sábia mão da ternura,

deixa a porta entreaberta.

Quadrante de sol a pino

na tênue casa deserta.

Tudo pode enternecer

todo o profundo instante,

o meu interno oceano

corta a linha do horizonte.

E no porão da memória

meu passado itinerante.

Marilia Abduani

Marilia Abduani
Enviado por Marilia Abduani em 06/12/2010
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