POEMA FOSCO

“Desprezo o verso que soa e não cria.”

Foscolo, Ugo

Minha mão de amante segura o papel.

Tenho que colocar nesta branca folha

todo o amor que dilacera o meu peito.

Adicionar tinta, lágrima, amor e emoção,

numa harmonia poética que não mereça

reparos, mas somente apoios e aplausos!

E o poema se cria, surge comum.

Ficou aquém do amor que tenho.

Parece anêmico, fraco, opaco, um caco!

Ficou sem cor nem tem olhos luminosos.

Achei-o turvo, faltou o brilho dos apaixonados,

faltou sol, ficou sem sal, nem bom, nem muito mal; normal!

Poema tem que flamejar mais que vestes brilhantes.

Poemas tem que ser inteiros e cabais, tem que convencer

a cada vocábulo, tem que nascer e andar por si só, sem muletas

ou andadores, sem usar o nome do criador. Tem que ser ímpar.

Meu poema fraquejou, nasceu doente, tem data para desaparecer.

Se continuar vivo manchará o amor que sinto, fará menor o meu amor.

O amor que me incendeia o peito

não arde nas linhas do meu poema;

Não incendeia nem mesmo as vistas do poeta criador.

É alicerce feito na areia, cede fácil,

desmorona ao primeiro vento.

E, que a maré cheia lamba os restos mortais

deste poema que eu criei e matarei. Amém...

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 29/11/2010
Código do texto: T2644029
Classificação de conteúdo: seguro