Símile
Deixe-me contar-te um segredo:- Pouco importa as uvas de má qualidade, feias ou pequeninas, se ao final produzem-se em excelentes vinhos; Pouco importa se as águas são turvas (sujas), se nelas se produz os peixes que nos alimentam; Pouco importa se há galhos fracos ou secos em uma árvore, se podemos descansar debaixo de suas folhagens verdes e espessas.
Pouco importa se há espinhos em uma rosa, se esta enfeita nosso jardim, nossa sala, nossa vida. A mim também pouco importa seus defeitos, seus erros, seus agravos, pois como o vinho, traz alegria e contentamento ao meu eu, como as águas, mata-me a sede de paixão. Como a rosa, em que há virtude e símbolo de amor, deixo-me ferir pelos seus “espinhos”, pois quando sangra o coração de um poeta, o que sangra não é sangue, são palavras que escoam e molham a terra mais preciosa, o coração da amada, o peito que suspira forte porque e no fundo admite não viver mais sem poema.
Acredito, lá no fundo, que tua alma me grite-não a mim, exatamente-, mas aos versos que te entrego com sofreguidão e ardor. Por isso este poema:
Dizes que sou insano
Sou louco, sou eloqüente
Confesso, não é engano
Pois sou mesmo incoerente
Acho-me, pois homem de sorte
Que nada tem a reclamar
Se é que se chama sorte
Amar o que não pode amar
É um amor idealizado
Profundo, de alma latente
Não um amor estilizado
Amor fingido, negociado
É um amor diferente
É o amor de alma poética
Intocável, inacessível, perene
É um amor absoluto
Que deixa meu eu de luto
Já o disse, absoluto
Que morre e será sepultado
É o amor de um poeta
Que ao longe te espreita
Tão logo morre,
Pois não o amas, nem amarás
Então,
Morro...